Água-viva
Emiliano Castro
Qualquer pobre andarilho sabe o sacrifício que eu fiz
Pra me livrar da solidão
Distribuí amor no baixo meretrício
A preço de ocasião
Sorri quando um praça pagou meu almoço
Dancei com o filho coxo da dona da pensão
Tirei o meu vestido a troco de banana
Seios em liquidação
Domingo eu me pintei e dei de graça o meu sorriso
Perdi o meu juízo, rodei de mão em mão
Ninguém se comoveu com meu doce suplício
E eu fui dormir no colo da ilusão
Agora eu já nem sei se sou mulher ou água-viva
Meus olhos guardam conchas e corais
(o meu sussurro em gíria de marujo é maresia…)
Serei a que vagueia
O seu noturno olhar de maré cheia
Nas pedras pisadas do cais
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